sábado, 10 de maio de 2014

A difícil arte da convivência virtual


Há tempos venho pensando neste tema... há alguns anos, nem tão distantes assim, a convivência baseava-se, principalmente, do contato pessoal. Ou seja, você conhecia alguém pessoalmente, e havendo traços em comum, havia a continuidade. E aí a convivência, fosse por telefone, pessoalmente ou por carta (sim, aquela pelo correio) eram as formas de aprofundar as relações. Claro que existiam também as amizades por correspondência, mas estas eram minoria.

Você conhecia as pessoas pelo que elas lhe mostravam, as conversas eram pautadas por interesses comuns, e se algum traço da personalidade do outro não lhe agradasse, você podia restringir, até extinguir o contato ou, o que acontecia frequentemente, você relevava porque entendia que cada um tem seu jeito, sua característica própria, e de mais a mais, se a convivência não era diária, aquilo não chegava a lhe incomodar demais. Era só não tocarem naquele ponto e tudo estava resolvido.

E então chegou a internet e, com ela, as redes sociais, os blogs, a superexposição. Eu confesso que demorei muito para me deixar morder por esse "bichinho danado", mas acabei cedendo ao vício. Primeiro no Orkut (que ainda existe mas está lá, paradinho, paradinho), no Gazzag (alguém lembra desse???), nos grupos do Yahoo, e depois no Facebook. Comecei a encontrar amigos, a reencontrar pessoas que não via há tempos, e num instante estava estabelecendo contato com pessoas que nunca havia visto antes, principalmente por causa dos grupos sobre síndrome de Down. As conversas eram travadas via MSN, com seus emoticons fofos ou engraçados, às vezes apenas entre duas pessoas, às vezes em grupos enormes... como a gente se entendia naquilo??? :D Mas foi aí que comecei a perceber o problema... a linguagem escrita é muito diferente da verbal. Por mais que se faça uso dos emoticons, não existe entonação, não existe a linguagem corporal e, vamos combinar, nem todo mundo escreve ou pontua as frases como deveria! Um texto mal escrito pode descambar para uma desavença séria numa simples clicada em "Enviar". E quanto eu vi disso... quantas amizades eu vi desfeitas por causa de bobagens, por causa de coisinhas pequenas, que numa conversa cara a cara poderiam ser resolvidas facilmente!

Bastava uma mensagem com alguma ironia ser recebida por alguém que não estava "no espírito" para que ela fosse respondida de forma “atravessada”. E daí a se tornar uma discussão, e virar uma briga séria, era um pulo! As pessoas não tinham (e muitos ainda não têm) o hábito de pensar antes de escrever, escrevem no impulso, na emoção do momento, e uma vez enviada a mensagem, adeus. Pode até se arrepender depois, mas desfazer o escrito é bem mais complicado do que desfazer o que é falado. O texto escrito é "cru", e está lá registrado, para ser relembrado com todos os detalhes! Não há lapso de memória, não tem como dizer "não foi exatamente isso que eu disse".

Ainda assim, nunca antes eu tinha observado um fenômeno como o Facebook traz hoje. A sua popularização, unida à dos computadores e smartphones, certamente contribuiu para isso. Eu percebo que a irritabilidade das pessoas cresceu demais, o julgamento do outro cresceu demais, a intolerância cresceu demais, a amizade se tornou descartável! É algo tão absurdo que me espanta diariamente. A quantidade de postagens reclamando do que os outros fazem é algo impressionante! Seja por solicitações de jogos que nem sempre podem ser evitadas pelos usuários, seja por vírus que algum desavisado pega (e espalha para outros desavisados), seja porque os amigos não curtem/comentam as postagens, seja por não concordar com algo que o outro postou... é tudo tão pequeno!!!
Quem gosta dos jogos do Facebook nem sempre sabe evitar as solicitações, ou nem sempre CONSEGUE evitá-las, já que muita coisa vem escrita em inglês e nem todos dominam o idioma. Mas é tão simples evitar que apareçam na sua linha do tempo! Basta você bloquear as solicitações dos jogos! Precisa reclamar com quem quer se divertir, como se ele fosse algum "criminoso"? Ou pior: precisa excluir dos seus amigos quem envia tais solicitações? Sim, já vi isso acontecer, chega a ser ridículo!!! Que AMIZADE é essa?

Os vírus existem desde que existem os computadores, e por mais que a informação para evitá-los hoje seja bem mais difundida, nem todos têm conhecimento ou discernimento para isso. E nem sempre conseguem fazer a remoção rápida, às vezes pensa que resolveu o problema e ele está lá ainda. Mas para quê eu vou avisar o meu "amigo" que o computador dele está infectado ou tentar ajudá-lo a resolver? Não, mais fácil excluí-lo de vez, a amizade dele não me interessa! Como assim???

Pior ainda: reclamar daqueles que nunca curtem ou comentam suas postagens! Quantos amigos você tem no face? Você consegue curtir ou comentar o que todos postam? De verdade? Eu não consigo! Até mesmo porquê, muitas vezes eu vejo as postagens pelo celular, quando a Vivo resolve fazer jus ao nome e funciona, e já aconteceu de comentar ou mandar mensagens e elas não chegarem ao destino. E, de mais a mais, eu não tenho tempo hábil para isso! Normalmente eu curto alguma coisa quando vou comentá-la, mas tem muita coisa que acho bacana e que não me preocupo, de fato, em ficar "curtindo". Será que isso é motivo para alguém me excluir de seu rol de amigos??? Pois isso acontece com frequência por aí, acreditem!

Mas talvez a questão mais grave seja a não concordância com o que o outro postou. "Ah, esse aí só faz reclamar", "nossa, mas só sabe falar citando trechos da Bíblia?", "a página desse só tem desgraça", "milionário, hein? Vive viajando!", e por aí afora. Gente, a página é PESSOAL! Cada um posta o que lhe agrada, o que quer compartilhar, o que não significa que deva agradar a todos!  E é impossível falar deste tópico sem lembrar aqueles imensos problemas que passei. Apesar de compartilhar o que estava acontecendo, eu me fechei muito, acabei me afastando de muita gente, para não parecer que tinha me tornado uma pessoa "amarga" que só sabia falar em desgraça. Não foi escolha minha o que aconteceu, e os AMIGOS de verdade continuaram me procurando, querendo saber, chegaram a fazer campanhas para me ajudar financeiramente (graças a Deus, jamais teria "cara" de pedir assim, e foi o que me salvou). Mas houve, sim, quem se afastou, talvez por não gostar de ver que eu não vivo em um mundo cor de rosa, ou por medo que eu resolvesse pedir dinheiro, não importa. Passou, e é isso que vale.

O problema é que essa não concordância anda de mãos dadas com a intolerância, que tratei em outro texto recentemente. Você não concorda com a postura de alguém, acha que ela deve agir da mesma forma que você, gostar das mesmas coisas que você, e quando isso não acontece... tchau, amizade! Eu sou bastante tolerante, imagino. Não é porque não curto bebidas alcoólicas, ou porque sou vegetariana que saio atacando quem posta fotos de churrasco regados a cerveja. Aliás, nunca recusei participar deles, se a companhia valesse a pena! Porque eu prezo muito mais a PESSOA e as QUALIDADES que ela apresenta do que eventuais traços que me desagradam! Afinal, eu mesma tenho traços que certamente desagradam meus amigos, todos têm! Será tão difícil assim ser um pouquinho maleável? Entender que o fato de duas pessoas não concordarem em alguns pontos não significa necessariamente que não possam conviver, até serem amigas?

A "amizade descartável" é um fenômeno que me assusta um bocado. As redes sociais, que multiplicaram de certa forma os amigos que cada um tem, ao mesmo tempo tornou as relações muito frágeis! É muito fácil "deletar" alguém da sua vida. Hoje, graças à megaexposição, a gente acaba conhecendo detalhes da personalidade do outro que antes podiam passar despercebidos. Passamos a julgá-los por isso. Passamos a ser intolerantes por isso. Será mesmo isso uma EVOLUÇÃO??

Que tal pensar um pouquinho a respeito? Que tal parar antes de julgar e condenar o outro, antes de tirar conclusões precipitadas sobre quem quer que seja? Talvez assim possamos lapidar nossa própria personalidade, de forma a sermos mais tolerantes com o próximo, fortalecendo amizades, mesmo que virtuais (e que nada impede se tornem reais), talvez a gente se lembre de valorizar aquilo que realmente importa sem se pegar em mesquinharias, talvez possamos cuidar melhor daquilo que disseminamos.

Sim, não posso deixar de tocar neste ponto sem comentar os boatos que se espalham pela internet, sem que as pessoas se preocupem em checar. Compartilham denúncias gravíssimas sem, ao menos, fazer uma pesquisa rápida no Google para ver se aquilo é verídico. Aí assistimos casos como o da Fabiane, moça linchada no Guarujá... um boato, um retrato falado, postado em uma página do Facebook e compartilhado sabe-se lá quantas vezes, foi suficiente para que alguém simplesmente a apontasse na rua acusando-a, e a turba enlouquecida resolveu fazer justiça (?!?) com as próprias mãos. É... tem muita coisa a ser revista por aí...

Eu volto.

Andréa 

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